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Lula promete lutar até a morte na véspera de julgamento crucial

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante manifestação em Porto Alegre, 23 de janeiro de 2018 afp_tickers

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu nesta terça-feira (23) a milhares de seguidores reunidos em Porto Alegre (sul) que só “a morte” o afastará da luta política, às vésperas de um julgamento por corrupção que ameaça sua participação nas eleições de outubro.

“Só uma coisa vai me tirar das ruas desse país e será o dia que eu morrer. Até lá estarei lutando por uma sociedade mais justa. Qualquer que seja o resultado do julgamento, eu seguirei na luta pela dignidade do povo nesse país”, proclamou o ex-presidente (2003-2010).

“Lula, guerreiro do povo brasileiro”, gritou a multidão, vestida de vermelho, quando o ex-líder sindical, de 72 anos, tomou a palavra no palanque, ao lado de sua sucessora e afilhada política, Dilma Rousseff (2011-2016), e dos principais líderes do Partido dos Trabalhadores (PT).

“Eu não vou falar do meu processo, nem da Justiça. Primeiro porque eu tenho advogados competentes que já provaram a minha inocência (…) Eu venho aqui falar do Brasil”, afirmou, ao defender sua candidatura às eleições presidenciais, para as quais é considerado o favorito, segundo todas as pesquisas de intenção de voto.

O professor indígena Ademir Brandino percorreu 600 km ao lado de membros da etnia kaingang para participar do ato.

“Lula nos apoiou com vários projetos dentro da aldeia. Abriu escolas, abriu espaço para nós, indígenas, nas universidades. Hoje estão se fechando as portas”, disse Brandino, de 38 anos, à AFP.

– ‘A tranquilidade dos inocentes’ –

“[Tenho] a tranquilidade dos inocentes. Daqueles que não cometeram nenhum crime. Eles têm medo que eu volte? Eles têm medo pelas coisas boas que nós fizemos”, declarou.

Lula foi condenado em julho a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação “Lava Jato”, que investiga um esquema de propinas na Petrobras, mas recorre desta sentença em liberdade.

A quarta-feira será um dia crucial para o futuro político deste ícone da esquerda latino-americana e para a maior economia do subcontinente.

Se o Tribunal Regional Federal 4 (TRF4) confirmar a condenação, Lula poderia ver sua candidatura rejeitada pela Justiça eleitoral e até ser preso uma vez esgotados todos os recursos.

Diante do temor de confrontos pelas convocações dos atos contra e a favor de Lula, as autoridades de Porto Alegre montaram um dispositivo especial de segurança. O tribunal, próximo ao rio Guaíba, será protegido com apoio de embarcações e helicópteros e um bloqueio perimetral terrestre, aéreo e fluvial.

Lula acompanhará em São Paulo o debate judicial.

– Os mercados seguem atentos –

Os mercados apostam em uma confirmação da sentença de Lula, de acordo com vários analistas.

A Bolsa de São Paulo, que nas últimas semana batia recordes, fechou nesta terça-feira em queda de 1,22%, atribuída pelos especialistas a uma certa prudência antes do julgamento crucial.

“Os mercados não podem esconder seu entusiasmo: uma decisão contrária a Lula, que prometeu reverter parte das reformas pró-mercado do presidente Michel Temer, é visto em geral como um golpe fatal para suas aspirações eleitorais”, afirmou o analista Silvio Cascione em nota da consultoria Eurasia.

Temer descartou que a sentença de Lula, qualquer que seja, vá perturbar os investidores, em um momento em que o Brasil afiança a saída da pior recessão de sua história.

O julgamento “talvez roube a cena daqui porque é no mesmo dia. Mas fora daí, eu acho que não vai causar mal estar nenhum, é um evento natural”, disse Temer em coletiva de imprensa em Zurique, antes de ir para o Fórum Econômico Mundial de Davos.

– Múltiplos cenários –

Lula foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro como beneficiário de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, ofertado pela empreiteira OAS em troca de contratos na Petrobras.

O ex-presidente se declara inocente e denuncia uma conspiração contra ele para evitar seu retorno ao poder.

Há vários cenários durante este julgamento de segundo instância, que dependem, em primeiro lugar dos três desembargadores do TRF4: uma condenação por unanimidade (3-0), por maioria de 2-1 (que abre um leque mais amplo de recursos) ou inclusive – a menos provável das hipóteses – uma absolvição.

No campo eleitoral, uma condenação por corrupção tornaria Lula “inelegível”, segundo a legislação, embora também caibam recursos, que lhe permitiriam ganhar tempo.

“Se for condenado, é provável que a Justiça eleitoral o declare inelegível”, depois que apresente sua candidatura, no máximo, em 15 de agosto, disse à AFP Henrique Neves da Silva, ex-integrante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mas mesmo condenado, Lula pode chegar a apresentar sua candidatura, amparado por medidas cautelares de tribunais superiores.

Esta situação, assim como os seis processos a que o ex-presidente responde, aumentam ainda mais a incerteza sobre o que vai acontecer nas eleições, para as quais o PT garante não ter um plano B se Lula for desqualificado a concorrer.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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