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Suíça oferece bolsas de até R$174 mil ao ano para estudantes brasileiros

mulher em frente ao computador
A paulista Samira Helena João de Souza pesquisa a erosão dental na Universidade de Berna. swissinfo.ch

Vagas para doutorado, pós-doutorado e pesquisa são opção para quem quer estudar e viver no país alpino.

Rodrigo sente saudades da esposa e dos animais de estimação. Samira acha difícil compreender os dialetos. Marina é tímida mas deseja fazer novas amizades. Apesar dos desafios, todos concordam sem pestanejar: estudar na Suíça com os custos pagos é a oportunidade mais fantástica que já conquistaram na vida.

Brasileiros qualificados em diferentes áreas têm experimentado a chance de concluir uma pós-graduação internacional graças a bolsas concedidas pelo governo da Suíça. Com o apoio aos estudos, os jovens se destacam em cursos e pesquisas nas universidades centenárias do país alpino.

A cada ano a Suíça recebe cerca de 52 mil alunos estrangeiros nas instituições de nível terciário. O país leva o ensino de qualidade a sério e investe 4,6% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em educação, apontam dados de 2016 da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). As universidades e Institutos politécnicos superiores são o destino de talentos internacionais e as bolsas concedidas pelo governo é a isca que atrai mentes brilhantes do mundo todo.

O programa Bolsa de Excelência do Governo Suíço (Swiss Government Excellence Scholarship) existe desde 1961 e é uma cooperação da Suíça com mais de 180 países. Os candidatos são selecionados pela Comissão Federal para Bolsas a Estudantes Estrangeiros em um processo seletivo que tem taxas de êxito que variam entre 15% e 20%.  

No Brasil são selecionados candidatos para doutorado, pós-doutorado e intercâmbio em pesquisa. Não há subsídios ao bacharelado e mestrado. Para ter sucesso no processo seletivo, é fundamental que o candidato encontre um professor orientador que acompanhe a ida do estudante à Europa. Quem conquista a tão sonhada bolsa poderá dispor de até 42 mil Francos (R$174 mil) ao ano para custear a estadia na Suíça dependendo do tipo de estudo.

Os valores pagos variam com o nível de qualificação, mas é preciso lembrar que o custo de vida na Suíça é alto. Na edição de 2019-2020 os estudantes receberão por mês CHF1920 (R$7,950) para cursar PhD e fazer pesquisa; e CHF3500 (R$14,550) para pós-Doutorado. 

Feijão com Arroz e Carne Assada

O gaúcho Rodrigo Assunção Rosa está realizando um doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (EAESP/FGV). Ele veio à Suíça como pesquisador residente na área de Educação a Distância (EAD) e ficará baseado na Universidade de Zurique até agosto de 2019, aprendendo sob a supervisão do Professor David Seidl. 

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Rodrigo Rosa é pesquisador na área de estratégia organizacional e prepara uma tese no campo empírico sobre educação à distância na Universidade de Zurique. swissinfo.ch

Apesar de viver há só pouco mais de dois meses no país, Rodrigo acredita que não há muita dificuldade para se adaptar. Ele confessa, porém, que para todos estudantes sempre existem três desafios: a alimentação, a convivência e a distância. 

“Como sou brasileiro e gaúcho, gosto de um bom prato com arroz e feijão e daquela carne assada na brasa. Porém aqui na Suíça a carne é muito cara”, brinca.

Mesmo sem churrasco, Rodrigo acha a experiência “fascinante”. “Esse país é incrível, e as pessoas com quem trabalho e convivo são sensacionais. Tenho aprendido muito com tudo nesse curto período de tempo que estou aqui em Zurique”, disse.

A mesma empolgação é evidente na cirurgiã-dentista  Samira Helena João de Souza. Paulista de Campinas ela conta que está “aprendendo muito profissionalmente”.

“As discussões semanais que temos em nossas reuniões do laboratório são muito produtivas. Além disso, trocamos o tempo todo informações e dúvidas sobre cada etapa dos nossos projetos”, diz. Samira investiga a erosão dental – doença que afeta os dentes pela ação de ácidos – na Universidade de Berna.

Nas horas de lazer Samira aproveita para desbravar a Suíça. “O transporte público aqui é muito acessível e nos permite viajar fácil e pontualmente. Adoro poder conhecer novas regiões. Acho incrível como um país tão pequeno tem uma variedade cultural tão grande”, conta.

A médica porto-alegrense Marina Verçoza Viana concorda: “as paisagens são de cartão postal”, diz. Conduzindo um pós-doutorado na Universidade de Lausanne, ela se dedica a estudar o metabolismo humano e a nutrição dos pacientes em estado crítico.

A mesma sensação de maravilhamento acomete Fabiana Rodrigues de Souza. Filha de uma trabalhadora doméstica, ela conquistou a bolsa em educação física propondo uma pesquisa sobre o legado dos Jogos Olímpicos de 2016 na comunidade da Cidade de Deus.

A fluminense de São Gonçalo superou mais de 80 propostas concorrentes e foi desenvolver o estudo na Universidade de Basileia, a mais antiga do país, fundada em 1460. “Foi fantástico”, resumiu.

Dicas para vencer

Além de serem bons alunos no bacharelado e mestrado, os estudantes vencedores das bolsas apresentaram candidaturas consistentes que contaram com uma convincente carta de apoio escrita pelo professor orientador na Suíça.

“Posso afirmar que uma peça chave no processo é a confirmação de um orientador, disposto a acompanhar o pesquisador. É valido incluir neste documento a importância que o projeto do candidato tem para a área de pesquisa”, deu a dica para swissinfo.ch Maria Dobischok, assessora para Assuntos Econômicos, Educacionais e Científicos da embaixada da Suíça no Brasil.

“É um processo bastante difícil, burocrático e caro. Gastei cerca de R$2500 ao todo, principalmente com as traduções juramentadas. No entanto, se comparado às oportunidades no Brasil as chances de aprovação são bem maiores. Por isso vale muito a pena todo o tempo dedicado e o investimento”, encoraja Rodrigo Assunção Rosa.

Rodrigo sugere uma estratégia de três passos. Primeiro, montar um bom planejamento: “pense na melhor forma de realizar o processo de sua aplicação. Se descobriu a bolsa muito em cima do prazo, é melhor deixar a tentativa para o próximo ano. Como a aplicação vai de agosto a final de outubro, o ideal é encaminhar os e-mails entre junho e julho”, diz.

Segundo, conquistar a aderência do grupo de pesquisa ao seu projeto: “Muitos estudantes as vezes escolhem o local apenas por causa do prestígio da instituição ou do orientador. Considero isso um erro, pois o que de fato é avaliado nos processos é o alinhamento da sua pesquisa com o grupo e com a comunidade em que estará inserido”, acredita.

E em terceiro, cultivar paciência e persistência: “paciência porque é um processo longo e demorado”, adianta Rodrigo. “Será exigida dedicação para várias coisas, como na troca de e-mails com o grupo de pesquisa, na hora de escrever o projeto, de redigir a carta de motivação…” “Há vários processos que são bem burocráticos como a tradução juramentada e o apostilamento em cartório. Reserve entre 4 a 6 meses para todo o processo”. E por fim, não abra mão da persistência: “pois nem sempre as coisas saem como o previsto, então lute por buscar alternativas que façam você ir em frente”, conclui.

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