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Para onde vão os bilhões do banco central da Suíça

O presidente do Banco Nacional Suíço (o banco central) Thomas Jordan, aqui retratado enquanto apresentava a nova nota de 100 francos, decidiu fazer um presente de pós-Natal para a Confederação e os cantões. © Keystone / Laurent Gillieron

Em 2019, o Banco Nacional Suíço gerou um lucro de CHF 49 bilhões, o segundo maior da sua história. Diante dessa montanha de dinheiro, o Banco decidiu fazer uma contribuição "generosa" para a Confederação e para os cantões.

De onde vem este lucro de bilhões de dólares?

Na quinta-feira, o Banco Nacional Suíço (SNB, na sigla em alemão)Link externo anunciou um lucro de CHF 49 bilhões para o ano que acaba de terminar. Os números finais serão anunciados em março. O resultado do SNB deve-se principalmente ao bom desempenho dos mercados de capitais, de divisas e de ouro em 2019. Entre outras coisas, o banco central obteve um lucro de CHF 40 bilhões em valores em moeda estrangeira, enquanto que o aumento da cotação do ouro resultou em um ganho de capital de quase CHF 7 bilhões.

Por que o SNB tem registrado excedentes tão elevados nos últimos anos?


Em 2008, muitos governos mostraram estar despreparados e sem os recursos necessários para lidar com a grave crise financeira que eclodiu internacionalmente. Desde então, vários bancos centrais, a começar pelos bancos centrais americanos e europeus, começaram a intervir muito mais ativamente nos mercados para evitar um colapso do sistema financeiro e das próprias economias.

O SNB também seguiu esta política, que em 2008 colocou mais de CHF 50 bilhões na mesa para salvar o UBS, e nos anos seguintes interveio continuamente nos mercados de câmbio para evitar uma apreciação excessiva do franco suíço. Para isso, o SNB teve de aumentar massivamente as suas reservas de divisas, que passaram de 80 bilhões para 800 bilhões de francos suíços em uma década. Uma soma maior que o próprio PIB suíço.

O forte crescimento das reservas do SNB nos últimos anos resultou em lucros muito maiores, mas também em perdas muito mais pesadas.

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A quem são distribuídos os lucros do banco central?

A distribuição dos lucros é regida por um acordo entre o Departamento Federal de Finanças e o SNB. Para o período 2016-20, este acordo estipula que pelo menos CHF 1 bilhão por ano deve ser destinado à Confederação (1/3) e aos cantões (2/3) se a reserva de distribuição tiver um saldo positivo. Este montante será aumentado para CHF 2 bilhões se a reserva de distribuição exceder CHF 20 bilhões. Sob esta regra, a Confederação e os cantões quase sempre recebem dinheiro, mesmo em anos em que o SNB sofre prejuízo. Até agora, o SNB só deixou de pagar essa contribuição em 2013.

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Como o banco é registrado sob a forma de sociedade anônima, o SNB também distribui dividendos aos seus acionistas. Mas por cumprir um mandato de direito público, o dividendo aos acionistas tem sido legalmente limitado a 6% do capital social, dividido em 100.000 ações. Metade é detida por cantões, bancos cantonais e outros organismos de direito público.

Por que o SNB decidiu agora fazer uma contribuição mais generosa?

O banco central indicou que a reserva para futuras distribuições de lucros atingiu um nível recorde de CHF 86 bilhões, permitindo assim que a Confederação e os cantões recebam uma contribuição adicional, ainda não especificada, para além dos CHF 2 bilhões costumeiros. Com esta decisão, o SNB tem em conta, em certa medida, as crescentes críticas dos políticos, sindicatos e cantões nos últimos anos.  

De acordo com a Constituição, o SNB deve conduzir uma política monetária no interesse geral do país e não a realizar e distribuir lucros. Além disso, a independência do banco central é reconhecida por todos os principais partidos políticos. Mas nos últimos anos, com o crescimento espetacular das reservas cambiais e dos lucros, a pressão para uma distribuição mais generosa do seu dinheiro tem aumentado.

Os sindicatos pedem, por exemplo, que uma parte dos lucros seja utilizada para reestruturar o seguro de velhice e sobrevivência (AHV) ou para aumentar os rendimentos dos fundos de pensões, que têm sido penalizados pela própria política de taxas de juro negativas do SNB há cinco anos. “Como explicar às pessoas que elas têm que apertar cada vez mais o cinto, com um enfraquecimento das aposentadorias, quando o SNB não sabe o que fazer com seus bilhões de lucros?”, indagou recentemente o presidente da União Sindical Suíça Pierre-Yves Maillard.

Há apenas algumas semanas, o presidente do Banco Central, Thomas Jordan, havia rejeitado categoricamente esses pedidos, dizendo, entre outras coisas, que “seria perigoso misturar política monetária com política social. Isso seria prejudicial para o bom funcionamento do SNB, uma vez que o colocaria sob pressão desnecessária”.

swissinfo.ch/ets

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